1.
Dois
anos de intenso trabalho
Em uma carta
enviada à sua mãe, no dia 30 de maio de 1939, frei Francisco escrevia:
“Imagine,
mamãe! Para construir esta Catedral de Grajaú, quinze homens estão empenhados
de contínuo nos fornos de cal; vinte nos fornos de alvenaria; vinte e cinco
espalhados no mato, aprontando tábuas e paus, dez homens, com trinta burros e
dez bois a carregar o material: cinquenta trabalham como pedreiros e há seis marceneiros.
Eu que marco o trabalho de cada um e, o que se torna mais pesado, devo vigiar,
corrigir, ensinar-lhes a trabalhar, pois muitos não conhecem a arte”.
Catedral de Grajaú localizada no bairro "Cidade alta". |
Em Grajaú,
muitos lembram esta epopéia em pleno sertão maranhense e se torna fácil escolher
entre tantas testemunhas.
Pedro Gomes
Pacheco esteve na construção do começo ao fim. Ele quem fez os dois
confessionários, segundo o desenho de frei Francisco. Ajudou a fazer as
tesouras, com o senhor José Crescêncio. Recorda que frei Francisco “pegava sozinho
de um lado um tesourão daqueles, enquanto do outro ficavam quatro homens dos
mais robustos. O povo colaborava muito; oferecia bois à igreja; o cal provinha
da Pedra chata; tinha a tropa dos padres e dos particulares que iam buscar. A madeira
vinha dos morros, no cangote do boi. Descarregavam a madeira debaixo da
mangueira, onde era o estaleiro e aí serravam de serrotão. Haviam ocasião em
que trabalhavam oitenta homens de uma só vez.
O pagamento era
feito aos sábados, às quatro horas. Os operários davam meia hora de trabalho
por dia para adquirir o sino, com a imagem de São Francisco.
Frei Francisco
convidava o povo a levar água para a construção; quando batia o sino às cinco
da tarde, o povo já sabia. Isso foi um romance! As colunas eram preparadas com
o molde de zinco; despejavam a pedra e o cal; do mesmo jeito foram feitas as
colunas de cima. Quem fazia as colunas era o mestre Hermínio” (sic).
Átrio da Catedral de Grajaú em construção (1939) |
Antonio da Costa
Alvarenga lembra: “Se tocou este serviço; nunca se parou um inverno. Pingavam estas
paredes, mas nunca se rachou um altar. frei Francisco trabalhava o tempo todo. Muitas
vezes vinha olhar como era a planta. Cento e tantos trabalhadores, barulho
medonho!”.
Dona Eunice Brito
recorda a colaboração de todo o povo: “A comunidade de Grajaú... homens e
mulheres e crianças ajudavam a carregar a água, pedra e areia da beira do rio;
quem tinha jumento carregava em ancoretas; não tinha carro. Às cinco da tarde,
o sino batia e todos se dirigiam em direção à margem do rio descendo da rua dos
Fontineles (hoje Frei Benjamim de Borno), lembrando as formigas, uns descendo e
outros subindo, com sorriso alegre”.
A pagina mais
bela da história da catedral foi escrita no dia 14 de abril de 1940, quando, em
um só dia, com o concurso do povo todo, foi colocado o telhado. Sigamos a
descrição do cronista, Frei Cesário Minali:
“O dia 14 de
abril ofereceu um espetáculo consoladouro ao ver homens, mulheres e crianças trabalharem
sem parar sobre as escadas e os andaimes, ao canto de benditos religiosos e da pátria
e ao pipocar dos foguetes. Uma cena que enchia o coração de emoção. Era o povo
grajauense todinho, que trabalhava para a sua catedral, satisfeitos de poder
ajudar os missionários a realizar um sonho a muitos anos acalentados”.
14 de abril de 1940: colocando o telhado da Catedral. |
Mesmo a
catedral não estando terminada, no Natal de 1940 deu-se inicio aos atos
religiosos.
“A meia noite,
missa cantada, na nova catedral, celebrada pelo vigário Frei Francisco, a
primeira missa na catedral. Pela manhã, Dom Emiliano celebrou solene
pontifical, sendo assistentes Frei Francisco e Frei Renato. Data histórica,
pois, viram-se coroados os esforços de dois anos de intenso trabalho. Embora não
oficialmente inaugurada, a nova catedral recebe a sua consagração com a
celebração da primeira missa”.