segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A CATEDRAL NOSSO SENHOR DO BONFIM EM GRAJAÚ (parte 4)


1.      Dois anos de intenso trabalho
Em uma carta enviada à sua mãe, no dia 30 de maio de 1939, frei Francisco escrevia:
“Imagine, mamãe! Para construir esta Catedral de Grajaú, quinze homens estão empenhados de contínuo nos fornos de cal; vinte nos fornos de alvenaria; vinte e cinco espalhados no mato, aprontando tábuas e paus, dez homens, com trinta burros e dez bois a carregar o material: cinquenta trabalham como pedreiros e há seis marceneiros. Eu que marco o trabalho de cada um e, o que se torna mais pesado, devo vigiar, corrigir, ensinar-lhes a trabalhar, pois muitos não conhecem a arte”.
Catedral de Grajaú localizada no bairro "Cidade alta".

Em Grajaú, muitos lembram esta epopéia em pleno sertão maranhense e se torna fácil escolher entre tantas testemunhas.
Pedro Gomes Pacheco esteve na construção do começo ao fim. Ele quem fez os dois confessionários, segundo o desenho de frei Francisco. Ajudou a fazer as tesouras, com o senhor José Crescêncio. Recorda que frei Francisco “pegava sozinho de um lado um tesourão daqueles, enquanto do outro ficavam quatro homens dos mais robustos. O povo colaborava muito; oferecia bois à igreja; o cal provinha da Pedra chata; tinha a tropa dos padres e dos particulares que iam buscar. A madeira vinha dos morros, no cangote do boi. Descarregavam a madeira debaixo da mangueira, onde era o estaleiro e aí serravam de serrotão. Haviam ocasião em que trabalhavam oitenta homens de uma só vez.
O pagamento era feito aos sábados, às quatro horas. Os operários davam meia hora de trabalho por dia para adquirir o sino, com a imagem de São Francisco.
Frei Francisco convidava o povo a levar água para a construção; quando batia o sino às cinco da tarde, o povo já sabia. Isso foi um romance! As colunas eram preparadas com o molde de zinco; despejavam a pedra e o cal; do mesmo jeito foram feitas as colunas de cima. Quem fazia as colunas era o mestre Hermínio” (sic).

Átrio da Catedral de Grajaú em construção (1939)

Antonio da Costa Alvarenga lembra: “Se tocou este serviço; nunca se parou um inverno. Pingavam estas paredes, mas nunca se rachou um altar. frei Francisco trabalhava o tempo todo. Muitas vezes vinha olhar como era a planta. Cento e tantos trabalhadores, barulho medonho!”.
Dona Eunice Brito recorda a colaboração de todo o povo: “A comunidade de Grajaú... homens e mulheres e crianças ajudavam a carregar a água, pedra e areia da beira do rio; quem tinha jumento carregava em ancoretas; não tinha carro. Às cinco da tarde, o sino batia e todos se dirigiam em direção à margem do rio descendo da rua dos Fontineles (hoje Frei Benjamim de Borno), lembrando as formigas, uns descendo e outros subindo, com sorriso alegre”.
A pagina mais bela da história da catedral foi escrita no dia 14 de abril de 1940, quando, em um só dia, com o concurso do povo todo, foi colocado o telhado. Sigamos a descrição do cronista, Frei Cesário Minali:
“O dia 14 de abril ofereceu um espetáculo consoladouro ao ver homens, mulheres e crianças trabalharem sem parar sobre as escadas e os andaimes, ao canto de benditos religiosos e da pátria e ao pipocar dos foguetes. Uma cena que enchia o coração de emoção. Era o povo grajauense todinho, que trabalhava para a sua catedral, satisfeitos de poder ajudar os missionários a realizar um sonho a muitos anos acalentados”.

14 de abril de 1940: colocando o telhado da Catedral.

Mesmo a catedral não estando terminada, no Natal de 1940 deu-se inicio aos atos religiosos.
“A meia noite, missa cantada, na nova catedral, celebrada pelo vigário Frei Francisco, a primeira missa na catedral. Pela manhã, Dom Emiliano celebrou solene pontifical, sendo assistentes Frei Francisco e Frei Renato. Data histórica, pois, viram-se coroados os esforços de dois anos de intenso trabalho. Embora não oficialmente inaugurada, a nova catedral recebe a sua consagração com a celebração da primeira missa”.

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