sábado, 28 de setembro de 2019

ALTO ALEGRE E A PRELAZIA DE GRAJAÚ (parte 1)

Capela São José da Providência em Alto Alegre (Foto de 1980).


ALTO ALEGRE E A PRELAZIA DE GRAJAÚ
A catequese entre os índios foi uma das principais finalidades da missão, sempre defendida pelo fundador e pai Frei Carlos de S. Martino Olearo. Antes de serem oficialmente fundadas as colônias de Alto Alegre e Prata, os frades, sempre encabeçados por fr. Carlos, visitaram mais de 20 aldeias nas redondezas de Barra do Corda e no Pará, ao longo do rio Capim e no Maracanã.
A colônia de Alto Alegre teve seus inícios em 1896, sendo fruto de acordos entre os capuchinhos e o governo brasileiro. Na cidade de Barra do Corda os frades mantinham uma escola em regime de externato para os indígenas do sexo masculino. Com a presença de uma comunidade religiosa no meio das aldeias Guajajara idealizou-se então uma colônia agrícola, com uma escola em regime de internato, a ser gestido por uma congregação de irmãs. Em 1898, o então superior regular frei Rinaldo de Paullo conseguiu em Gênova uma congregação de irmãs que pudessem cuidar do internato de Alto Alegre. Conseguindo falar com Madre Francisca Rubatto, fundadora de uma congregação de irmãs capuchinhas, elas deveriam estar em Alto Alegre no inicio do ano seguinte. Vindas de Montevidéu, no Uruguai, as irmãs chegavam a São Luís do Maranhão. Eram seis. Passando por São Luís, uma jovem terciária chamada Ana Maria acabou se encantando com o testemunho missionário e entrou na congregação.
Depois de dois meses de penosa viagem desde são Luís, as irmãs chegaram a Barra do Corda, ovacionadas pela população local. Em Alto Alegre, juntamente com os frades, elas deveriam tomar conta de uma população de cerca de quarenta aldeias que circundavam a colônia. Juntamente com as irmãs, trabalhavam os frades: Frei Celso de Uboldo, diretor da colônia, frei Salvador de Albino e frei Zacarias de Malegno. Frei Carlos de San Martino, que naquele período já não era mais o superior regular, estava na fundação da colônia de Santo Antônio do Prata.
No ano de 1900, com a sucessiva renomeação de frei Carlos como superior regular da Missão, frei Rinaldo voltou novamente à Alto Alegre. Em um espaço de oito anos, a colônia de Alto Alegre crescera, e tendo como objetivo a educação indígena, os frades logo acolheram também as filhas de alguns fazendeiros e colonos que moravam na região. Entretanto, alguns acontecimentos acabaram por dificultar o trabalho dos missionários na missão de Alto Alegre. Entre os quais, destacam-se:
·         A Epidemia de sarampo (1900) que matou quase a metade das meninas índias, gerando um mal estar no relacionamento entre as irmãs e as mães das crianças;
·         Os frades não eram muito bem vistos pelos comerciantes de Barra do Corda e Grajaú, bem como outros da capital, por conta do desenvolvimento da colônia agrícola, sempre em caminho para autonomia econômica;
·         A punição dada ao índio João Caboré (líder de grande influência entre os índios) por este, apesar de ter contraído matrimônio segundo as leis da Igreja, acabou por possuir uma concubina; o cacique Caboré foi punido pelos frades e acabou desentendo-se com eles.
·         A morte de frei Celso de Uboldo, por febre amarela. Frei Celso havia sido o diretor da colônia, e era muito estimado entre os índios.
O índio Caboré, que outrora havia fugido da colônia, tinha prometido vingança. Em janeiro de 1901, ele se encontrou em São Luís, no Palácio dos leões, com o então governador do estado João Gualberto Torreão da Costa, e foi-lhe conferida a “patente” de chefe supremo dos índios Guajajara no Maranhão; e mais, ainda lhe foram cedidas armas e munições. Segundo as crônicas dos jornais e de outras publicações que por muito tempo foram difundidas, Caboré saiu de São Luís e passou por diversas aldeias de todo o estado, rumo à Alto Alegre, para efetuar sua vingança.
Os acontecimentos de Alto Alegre sempre foram objeto de discussão de diversos antropólogos, sociólogos, historiadores, dentre outros. Porém, não se pode desconsiderar o trabalho e a coragem dos frades e irmãs que se doaram pela missão; se doaram até a morte, e por causa disso se tornaram ícones na história da atividade missionária no Maranhão. A versão tida como “oficial” da narração do sucessivo massacre que ocorreu em Alto Alegre foi por muito tempo difundida pelos jornais na época, e em outras publicações dos capuchinhos, no Brasil e na Itália.



Nenhum comentário:

Postar um comentário