Capela São José da Providência em Alto Alegre (Foto de 1980). |
ALTO ALEGRE E A PRELAZIA DE GRAJAÚ
A catequese entre
os índios foi uma das principais finalidades da missão, sempre defendida pelo
fundador e pai Frei Carlos de S. Martino Olearo. Antes de serem oficialmente
fundadas as colônias de Alto Alegre e Prata, os frades, sempre encabeçados por
fr. Carlos, visitaram mais de 20 aldeias nas redondezas de Barra do Corda e no
Pará, ao longo do rio Capim e no Maracanã.
A colônia de Alto
Alegre teve seus inícios em 1896, sendo fruto de acordos entre os capuchinhos e
o governo brasileiro. Na cidade de Barra do Corda os frades mantinham uma
escola em regime de externato para os indígenas do sexo masculino. Com a presença
de uma comunidade religiosa no meio das aldeias Guajajara idealizou-se então
uma colônia agrícola, com uma escola em regime de internato, a ser gestido por
uma congregação de irmãs. Em 1898, o então superior regular frei Rinaldo de
Paullo conseguiu em Gênova uma congregação de irmãs que pudessem cuidar do
internato de Alto Alegre. Conseguindo falar com Madre Francisca Rubatto,
fundadora de uma congregação de irmãs capuchinhas, elas deveriam estar em Alto
Alegre no inicio do ano seguinte. Vindas de Montevidéu, no Uruguai, as irmãs
chegavam a São Luís do Maranhão. Eram seis. Passando por São Luís, uma jovem
terciária chamada Ana Maria acabou se encantando com o testemunho missionário e
entrou na congregação.
Depois de dois
meses de penosa viagem desde são Luís, as irmãs chegaram a Barra do Corda,
ovacionadas pela população local. Em Alto Alegre, juntamente com os frades,
elas deveriam tomar conta de uma população de cerca de quarenta aldeias que
circundavam a colônia. Juntamente com as irmãs, trabalhavam os frades: Frei
Celso de Uboldo, diretor da colônia, frei Salvador de Albino e frei Zacarias de
Malegno. Frei Carlos de San Martino, que naquele período já não era mais o
superior regular, estava na fundação da colônia de Santo Antônio do Prata.
No ano de 1900,
com a sucessiva renomeação de frei Carlos como superior regular da Missão, frei
Rinaldo voltou novamente à Alto Alegre. Em um espaço de oito anos, a colônia de
Alto Alegre crescera, e tendo como objetivo a educação indígena, os frades logo
acolheram também as filhas de alguns fazendeiros e colonos que moravam na
região. Entretanto, alguns acontecimentos acabaram por dificultar o trabalho
dos missionários na missão de Alto Alegre. Entre os quais, destacam-se:
·
A Epidemia de sarampo (1900) que matou
quase a metade das meninas índias, gerando um mal estar no relacionamento entre
as irmãs e as mães das crianças;
·
Os frades não eram muito bem vistos
pelos comerciantes de Barra do Corda e Grajaú, bem como outros da capital, por
conta do desenvolvimento da colônia agrícola, sempre em caminho para autonomia
econômica;
·
A punição dada ao índio João Caboré
(líder de grande influência entre os índios) por este, apesar de ter contraído
matrimônio segundo as leis da Igreja, acabou por possuir uma concubina; o
cacique Caboré foi punido pelos frades e acabou desentendo-se com eles.
·
A morte de frei Celso de Uboldo, por
febre amarela. Frei Celso havia sido o diretor da colônia, e era muito estimado
entre os índios.
O índio Caboré,
que outrora havia fugido da colônia, tinha prometido vingança. Em janeiro de
1901, ele se encontrou em São Luís, no Palácio dos leões, com o então
governador do estado João Gualberto Torreão da Costa, e foi-lhe conferida a
“patente” de chefe supremo dos índios Guajajara no Maranhão; e mais, ainda lhe
foram cedidas armas e munições. Segundo as crônicas dos jornais e de outras
publicações que por muito tempo foram difundidas, Caboré saiu de São Luís e
passou por diversas aldeias de todo o estado, rumo à Alto Alegre, para efetuar
sua vingança.
Os acontecimentos de Alto Alegre sempre foram objeto de discussão de
diversos antropólogos, sociólogos, historiadores, dentre outros. Porém, não se
pode desconsiderar o trabalho e a coragem dos frades e irmãs que se doaram pela
missão; se doaram até a morte, e por causa disso se tornaram ícones na história
da atividade missionária no Maranhão. A versão tida como “oficial” da narração
do sucessivo massacre que ocorreu em Alto Alegre foi por muito tempo difundida
pelos jornais na época, e em outras publicações dos capuchinhos, no Brasil e na
Itália.
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