Por Frei Luís Rota de Locatello
Irmãos
caríssimos, Frei Eldi, guardião deste convento, frei José Nilton, pároco desta
igreja e demais concelebrantes. Prezados paroquianos e devotos de São
Francisco, é com imenso prazer que estou aqui convosco para celebrar o
centenário da bênção da primeira pedra deste majestoso, solene e santo templo.
Estou aqui em nome do Ministro Provincial desta Província capuchinha Nossa
Senhora do Carmo frei José Rodrigues de Araújo, para representá-lo, como
delegado seu, nesta circunstância festivo-histórica.
Recordando a História!
Aos 02 de
outubro de 1910, foi abençoada e posta a primeira pedra neste grandioso
santuário dedicado a São Francisco de Assis, fundador da Ordem franciscana, pelo
Excelentíssimo e Reverendíssimo Dom Santinho Coutinho, então Arcebispo
Metropolitano de Belém do Pará.
As crônicas da
época falam de uma participação extraordinária do povo e da presença de
autoridades civis, religiosas e militares. Escrevia o jornal “A Província do
Pará” no dia seguinte: “Há muito não se via uma demonstração religiosa tão
ardente e tão sincera como a de ontem na colocação da primeira pedra sobre a
qual se levantará o famoso Templo que terá como padroeiro São Francisco de
Assis. A manifestação pública e o ardor fervoroso manifestados, desde os homens
do povo até as primeiras autoridades de Belém, devem ter impressionado
grandemente esses homens (capuchinhos lombardos) simples e bons que pregam, em
nome de Deus, o amor ao próximo”.
Prezados
irmãos da Ordem, muitos de vocês foram como eu, párocos desta paróquia, devotos
de São Francisco e fiéis a esta igreja de Belém. Por causa disto hoje nos
reunimos para festejar os cem anos do início da construção deste templo e
reavivar o espírito de entusiasmo e fervor que tomou conta daqueles frades e
daquele povo. Os frades capuchinhos lombardos e o povo não só queriam mostrar a
fé e a confiança na divina providência, como também queriam ”atestar às
gerações futuras a fé, a eternidade, o zelo pela glória de Deus e pela salvação
das almas” (arquivo provincial). Com esta comemoração, queremos também
reafirmar o nosso amor a Deus e ao próximo, a nossa dedicação à igreja e propor
o ideal evangélico a todas as gerações presentes e futuras.
Testemunhas de uma fé inquebrantável!
Os frades
capuchinhos lombardos se instalaram aqui em Belém em 1900, tomando conta da
assistência espiritual do hospital da Ordem Terceira. Porém, desde 1898 já
estavam presentes no Estado do Pará, precisamente na Colônia do Prata.
Aqui neste
lugar, chamado outrora de RETIRO SAUDOSO, os frades vieram morar só em 1903,
por vontade do superior regular frei Pedro de Sexto. A casa habitada por eles
era uma casa muito simples. Inicialmente, construíram aqui uma capela dedicada
a Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos e, só depois, um convento e este novo
Templo.
Ademais, os
capuchinhos lombardos não foram os primeiros frades que vieram ao Pará. Já no
início do século XIX, em 1803, frei Francisco de Alba acompanhava o bispo Dom
Manoel Almeida de Carvalho nas visitas pastorais da imensa Diocese que abrangia
os Estados do Pará e da Amazônia. Em 1806 vieram para Belém frei Pedro de São
Pedro e frei Boaventura de Prado, os quais permaneceram pouco tempo. Em 1843
chegou a Belém frei Luiz de Belfort com mais sete frades. Estes, depois de um
período aqui na capital, deram início às missões entre os índios ao longo do
rio Amazonas e seus afluentes.
Frei Pedro
Paulo de Cariana fundou a missão de Andirá, em 1845, e do rio Purus. Em 1855,
entre os índios Maués. Frei Gregório Maria da Bene, em Alto Alegre, Rio
Branco; em 1850, fundou uma missão entre os índios Jaricús, Apuxana, Macuxis,
Saporás e Procutus. Em 1852 já tinha fundado uma missão em Waupés e Içanas. Sua
atividade missionária cobria todo o trecho fronteiriço com a Venezuela e a
Colômbia.
Frei Egidio de
Garezzo, de 1846 a 1860, catequizou os Mundurucus nas aldeias do Curi
e Jaituba, no rio Tapajós. Frei Felino de Castro Valva e frei Antônio de Albano
catequizaram os Mundurucus ao longo do rio Tapajós, na Localidade Bacabal, nos
anos de 1871 a 1883. Temos ainda frei Ludovico de Mazzarino e frei
Carmelo como fundadores da missão entre os Jurunas do rio
Trombeta. Frei Carmelo ali morreu em 1870.
O frade suíço
Cândido Sierro da Hemerance fundou a missão de “Assunção” em 1871 e a de “S.
Fidelis de Sigmaringa” em 1874, coadjuvado pelos confrades Miguel Anjo da
Burgio e Luiz de Piazza. Ele encontrou morte trágica numa excursão pelo rio
Capim, onde queria fundar uma missão, quando foi assaltado, juntamente com um
belga que ia explorar as nascentes do rio, por um grupo de índios Amanayas.
Muitos outros
frades capuchinhos fizeram-se missionários da palavra de Deus e do seu Reino
neste Brasil afora, seja nas grandes cidades do litoral, seja nas imensas
florestas e sertões. Todos com um único desejo: salvar almas e levá-las para
Deus. Podemos imaginar as muitas dificuldades que enfrentaram e os riscos que
passaram advindos quer sejam pelas doenças, quer sejam pelos inimigos da fé e
da justiça. Os grandes perigos não vinham tanto dos índios, que acabavam
abraçando a fé, mas dos exploradores dos índios, os chamados regatões. Estes
viam nos frades um obstáculo a seus imorais e injustos negócios.
É com este
espírito de fé e de entrega total a Deus que os capuchinhos lombardos vieram
para o Maranhão, Pará e Amazonas, no final do século XIX; e início do século XX
vieram para Belém. A Igreja, através da Congregação da Propaganda Fidei via
a necessidade de um trabalho missionário mais organizado que pudesse ter
continuidade. Por isso, convidou várias Ordens e congregações religiosas, e
entre elas a Ordem capuchinha, para que assumissem as missões e dessem
continuidade ao anúncio do evangelho e à assistência religiosa, tanto entre os
povos nativos, quanto nas grandes cidades da costa e nas pequenas do interior.
Os frades
capuchinhos lombardos construíram este grandioso templo em uma área alagadiça,
fora da cidade, no começo da mata; como se dizia, um empreendimento
extraordinário para ser um centro de evangelização e de promoção humana. O novo
espírito missionário não esquecia os indígenas. Os frades missionários já
estavam presentes no Prata, em Ourém e em outros lugares também do Maranhão,
como Alto Alegre, no interior do Estado, onde quatro frades junto com sete
irmãs e numerosos fieis foram mortos pelos índios Guajajaras. Esses
missionários se preocupavam em evangelizar também as grandes cidades com suas
periferias. A evangelização anda sempre junto com a promoção humana. Também
aqui em Belém, junto à igreja, surgiram várias iniciativas caritativas, como o
“Pão de Santo Antonio”, que começou no ano de 1937, e agora ganhou novas
instalações. Que se acrescente ainda outros atendimentos, como o Centro
catequético e de promoção humana Santa Izabel da Hungria, a comunidade santo
Antônio com o ambulatório e outras atividade promocionais, a creche do Pantanal
e o projeto de adoção à distancia. Tudo isto mostra as atividades sociais aqui
desenvolvidas pelos frades capuchinhos com toda a comunidade.
100 anos de intensa atividade pastoral!
A construção
deste templo teve um significado muito grande para os frades e toda a
comunidade cristã desta cidade de Belém. A partir daqui foram desenvolvidos os
grandes trabalhos de evangelização e catequese, tanto na cidade, quanto no
interior. Foi desenvolvido o trabalho pastoral com a juventude. Foi pensada a
Juventude Franciscana, a ordem franciscana secular e outros movimentos leigos.
Daqui saíam os frades para a região de Abaietetuba, Muju, Bujaru, e outras
cidades.
Por aqui
passaram frades ilustres e santos: frei João Pedro de Sexto, que idealizou este
convento e esta igreja; frei Carlos de São Martinho Olearo, fundador da Missão,
que morou por cerca de trinta anos até sua morte em 1931; frei Daniel de
Samarate, que enfrentou seu calvário de doente no leprosário do Tucunduba, com
muita paciência e resignação, confiante na misericórdia divina.
O testemunho e
as atividades de frei João Pedro de Sexto e de frei Daniel de Samarate foram
tão intensos e exemplares que a igreja achou oportuno introduzir-lhes a causa
de beatificação.
Este templo
foi construído com recursos oriundos das ofertas dos fiéis desta cidade e de
outras cidades do Brasil. É obrigação lembrar o venerado frei Paulo de
Trescorre, que visitou as principais cidades do Brasil, angariando donativos
para esta construção, juntamente com as contribuições do povo de Belém. Também
as autoridades colaboraram de bom grado com a missão. O Intendente de Belém, o
Senador Antônio Lemos, concedeu o terreno onde está construído o convento e a
igreja.
Reafirmando o Compromisso!
Estamos aqui
também para renovar o nosso compromisso com o evangelho e o Reino de Deus que
se manifesta também no amor ao próximo, particularmente os mais necessitados.
Foram proféticos os nossos frades quando construíram este templo. Por aqui
muitos alimentaram a sua fé e muitos encontraram o caminho para Deus. Este
templo material e o convento foram construídos sobre alicerces muito sólidos.
Era uma área alagada, e as construções antigas não apresentam nenhuma
rachadura, significando, assim, o compromisso evangélico firme e duradouro
alicerçado na fé em Cristo e no amor.
Deste modo
passaram os missionários lombardos. Agora esta missão já se constituiu em
Província autônoma. Atualmente a grande maioria dos frades é brasileira.
Contudo, o espírito é o mesmo: difundir o evangelho, testemunhar o amor
misericordioso de Deus e assumir as responsabilidades do futuro da Província. A
eles cabe de ora em diante a grande responsabilidade de dar continuidade ao
trabalho pastoral, social, e garantir o futuro da Província, não só no campo
administrativo, mas também no campo vocacional. As expectativas são boas, a
disponibilidade existe. Já é presente o espírito missionário. Esta Província
Nossa Senhora do Carmo assumiu uma missão em Cuba. Já passaram por lá
sete frades. Quatro ainda estão lá e proximamente irão mais dois. Prevê-se em
poucos anos que a Província assuma a responsabilidade de toda a missão.
Encerrando,
quero agradecer, em nome do Provincial e de toda a Província, a esta comunidade
pela belíssima celebração; ao frei Eldi, guardião desta casa, e ao frei José
Nilton pela organização desta celebração; a todos vocês frades pela
participação neste ato litúrgico e a todos os devotos de são Francisco, amantes
e freqüentadores constantes desta igreja pela presença hoje aqui.
A todos, o meu
muito obrigado!